Páginas

quinta-feira, 4 de abril de 2013

A ARTE DE PERDER...Elizabeth Bishop

                                                           Arte e Imagem by Thomas Barbey


Uma Arte

 (Elizabeth Bishop / Trad: Horácio Costa )

A arte de perder não se tarda a aprender;
tantas coisas parecem feitas com o molde
da perda, que o perdê-las não traz desastre.
Perca algo a cada dia. Aceita o susto
de perder chaves, e a hora passada embalde.

A arte de perder não se  tarda a aprender.
Pratica perder mais rápido mil coisas mais:
lugares, nomes, onde pensaste de férias
ir. Nenhuma perda trará desastre.

Perdi o relógio de minha mãe. A última,
ou a penúltima, de minhas casas queridas
foi-se. Não se tarda aprender, a arte de perder.

Perdi duas cidades, eram deliciosas. E,
pior, alguns reinos que tive, dois rios, um
continente. Sinto sua falta, nenhum desastre.

- Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um ente
amado), mentir não posso. É evidente:
a arte de perder muito não tarda aprender,

embora a perda – escreva tudo! – lembre desastre.