Crianças aprendem a mentir com os pais, diz especialista
Mentir é um hábito que as crianças aprendem com a família, defende o
grafólogo Paulo Sergio de Camargo. Para ele, pedir a uma criança para
dizer ao telefone que não estamos em casa é uma forma de treinar os
pequenos para que mintam.
Especialista explica que maior parte da comunicação é não verbal : |
Em "Linguagem Corporal", Camargo apresenta dados curiosos: apenas 35% da comunicação é verbal, o restante se dá por meio da postura, gestos e atitudes (EXEMPLOS).
O livro é resultado de mais de 20 anos de estudo do tema e se divide em
tópicos que ajudam a analisar e interpretar o gestual de mãos, pernas,
corpo e expressões faciais durante uma conversa.
Camargo dá dicas sobre como se comportar e se vestir em entrevistas de
emprego e ensina a aplicar os conhecimentos sobre a linguagem corporal
em táticas de vendas. No capítulo 14, há uma série de medidas para
detectar mentiras, e o autor explica como o ato de mentir começa a ser
aprendido em casa.
Paulo Sergio de Camargo, pós-graduado em gerência e desenvolvimento de
recursos humanos, é um dos mais conceituados grafólogos do Brasil, foi
instrutor de grafologia no Cepa (Centro de Psicologia Aplicada - Rio) e
também assina "Não Minta Pra Mim!", "A Grafologia no Recrutamento e Seleção de Pessoal" e "O Que É Grafologia?".
Leia trecho de "Linguagem Corporal".
14) Como detectar mentiras
A regra mais importante para entender este capítulo é a seguinte:
"Todos nós mentimos. A mentira faz parte do ser humano".
A mentira é o comportamento sobre o qual os pais e a família são mais
contraditórios com os filhos. Se por um lado ensinamos às crianças
ética, respeito e virtudes, por outro, as treinamos intensiva e
ostensivamente para que mintam. Obrigamos nossos filhos a mentir.
Exigimos isso deles.
Quando faço tal afirmação em palestras, vejo o ar de reprovação nos
olhos das pessoas. É impossível, dizem, jamais faria isso com meus
filhos.Passado o desconforto inicial, geralmente consigo convencer a quase todos, e tenha certeza de que não são poucos.
A criança não sabe mentir. Embora a natureza nos tenha presenteado com o
dom da verdade, a mentira é aprendida. Trata-se de um longo caminho que
começa quando o telefone toca e o filho atende. Muitas vezes o pai pede
ao filho para perguntar quem é e acrescenta:
- Se for fulano, diga que não estou!
E a criança explica, sem cerimônia:
- Meu pai mandou dizer que não está.
Além das mentiras existem a "meia verdade", os exageros, as omissões, os
esquecimentos providenciais, o blefe, o perjúrio, a dissimulação, o
fingimento e outras formas de burlar a verdade. Mentir é um ato que
aperfeiçoamos com o tempo, até que nos tornamos especialistas. Os
espanhóis dizem que o diabo é esperto não porque é diabo, mas sim porque
é velho.
O Dr. David L. Smith diz que uma das funções básicas da linguagem é
enganar. Eufemismos, trocadilhos, duplos sentidos e outros tipos de
discurso codificado usam metáforas e analogias para exprimir os
significados indiretamente. O autor escreve, sem meias palavras, que
somos mentirosos por natureza.
.
Estima-se que escutamos cerca de duzentas mentiras dos mais variados
tipos diariamente. Outros estudos mostram que mentimos a cada 20
minutos.
É bem verdade que muitas delas são mentiras sociais e inofensivas, cujo
objetivo é tornar as relações mais amenas e menos conflitantes.
- No momento a vaga está fechada, mas caso seja reaberta, certamente vamos te chamar.
Ao dizer isso, a analista de recursos humanos sabe que está mentido.
Jamais chamaria aquele candidato, pois suas qualificações são escassas.
Contudo, para preservar a pessoa, mente socialmente de modo aceitável.
Como vemos, a prática é corrente e aceita. Em quase todas as sociedades
existem mentiras aceitáveis e até mesmo obrigatórias. São
mentiras convencionais, utilizadas para diminuir os possíveis conflitos
ou danos que seriam gerados se falássemos a verdade.
A mentira se torna condenável quando passa a causar prejuízos aos demais, tanto no plano moral como no material.
Existem também pessoas que são exímias dissimuladoras. Portanto, fica
praticamente impossível descobrir sua mentira. É o caso de alguns
políticos que aperfeiçoaram a técnica por longos anos.
As pesquisas de cunho científico a respeito de mensagens corporais,
verbais e não verbais, indicativas de mentira, tiveram início na década
de 1960. Pesquisadores examinaram as reações fisiológicas de estudantes
universitários em laboratórios quando eles mentiam.
Segundo Paul Ekman, um dos pioneiros nesse campo, são observadas as
variações no ritmo da respiração do entrevistado, a elevação no registro
de voz, a forma como a pessoa se movimenta e até mesmo se não se
movimenta, como também sinais de tensão, que indicam se ela esconde
algo.
Ainda segundo o autor, "a única forma de possibilitar a detecção de
mentira é treinar as pessoas, sem computadores, sem padrões de medição,
apenas para fazê-las usar os olhos e os ouvidos".
Em muitos países existem cursos que ensinam a detectar mentiras. São
frequentados por juízes, policiais, promotores, agentes de segurança,
professores. Normalmente são observados os sinais inconscientes que as
pessoas enviam quando não estão falando a verdade. Nem sempre é fácil
detectar a mentira. Por isso, câmeras especiais, estrategicamente
posicionadas, suprem a falta de precisão do olho humano diante da
rapidez das mentiras.. O escaneamento termal dos olhos também é
interessante, pois com a mentira a temperatura dentro dos globos
oculares se amplia.
Evidentemente ainda existem falhas na maioria dos métodos adotados, mas os resultados finais são consistentes e animadores.
Assim como não existe alguém capaz de detectar mentiras sem nenhuma
margem de erro, não existem mentirosos perfeitos.
Algumas pesquisas sugerem que os especialistas treinados em detectar
mentiras conseguem um índice de acerto 70% maior que os demais.
Não poderíamos viver sem mentiras. Para não ultrapassar os limites
éticos da medicina, os médicos não dizem a verdade em toda sua extensão a
uma adolescente diagnosticada com doença terminal.
Assim, existem várias razões pelas quais as pessoas mentem.
Ganhar recompensas, ajudar alguém a escapar de castigo, proteger-se de
agressões físicas, sair de situações embaraçosas são outras situações
que levam à mentira.
Autor: Paulo Sergio de Camargo
Editora: Summus Editorial
Páginas: 160
Quanto: R$ 35,00 (preço promocional*)
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha