Obra Essencial à Historiadores, Economistas. Sociólogos e Afins.
Resenha de Luiz Carlos Bresser Pereira
Quem é o Luiz Gonzaga Belluzzo autor de O Capital e Suas Metamorfoses?
É o economista marxista que discute o movimento do capital-dinheiro se
transformando em capital financeiro e em capital fictício? Que explica a
crise financeira global de 2008 como inevitável porque inscrita na
lógica especulativa do capitalista? Ou é o economista keynesiano que
assinala a contradição dos anos pós-crise, porque todos procuram cortar
gastos e reduzir dívidas? Ou mesmo o filósofo que assinala a paradoxal
perda de autonomia do indivíduo em uma sociedade na qual o
neoliberalismo transformou a competição em único valor e erigiu o
indivíduo em supremo árbitro de tudo?
Belluzzo é um pouco de tudo isso, pois sua forma de ver o mundo está associada a Marx. Porque aprendeu com Marx a pensar histórica e dialeticamente. Por isso sua análise da modernidade neoliberal e de sua crise é tão rica neste livro. E por isso, também, ela não é linear; não pode ser resumida com um silogismo ou uma taxionomia.
Sou amigo de Belluzzo há uma eternidade. Nossa origem comum está no estruturalismo desenvolvimentista e na admiração por Marx.
Nos anos 1970, travamos um debate porque ele e outro querido amigo, Luiz Antonio de Oliveira Lima, criticaram minha teoria da tecnoburocracia. Uma teoria na qual eu utilizava instrumentos teóricos marxistas para chegar a conclusões marxistas.
Na virada dos anos 1970 para os 1980 nos juntamos na luta pela democracia e na tentativa bem-sucedida de formar um pacto democrático-popular, no qual os empresários industriais tivessem um papel de liderança associados aos trabalhadores e à burocracia pública.
A crise desse pacto e a minha decisão de participar da fundação do PSDB enquanto Belluzzo continuava no PMDB provocaram um inevitável afastamento, mas, quando o partido que julgara ser social-democrático caminhou para a direita e rejeitou o desenvolvimentismo, nossos caminhos voltaram a se cruzar.
Belluzzo é um analista e um crítico insuperável da financeirização do capitalismo. Em conjunto com Luciano Coutinho, escreveu um trabalho pioneiro sobre o tema em 2004, Financeirização da Riqueza, Inflação de Ativos e Decisão de Gastos em Economias Abertas.
Nesse livro, além de voltar a fazer a crítica do capitalismo e da sua inerente instabilidade, ele se vale de Lukács para nos propor uma ontologia do capitalismo, para vê-lo como um ser social que não está dentro de nós, que não é produto de nossas elucubrações lógicas, mas é um ser objetivo, que está aí fora de nós. Um ser complexo que podemos procurar entender em suas múltiplas determinações, sem perder de vista sua objetividade e unidade.
A economia política de Belluzzo está, assim, a quilômetros de distância do método hipotético-dedutivo usado pelos economistas neoclássicos ou ortodoxos, e dos seus modelos matemáticos vazios de realidade.
O que lhe interessa é compreender o mundo no qual estamos inseridos. E para isso ele se vale de uma gama de autores extensa e ilustre. Além de Marx e Keynes, que estão no centro do seu pensamento, temos Lukács, Berman, Marcuse, Boltanski, Polanyi, Mannhein, Kalecki e muitos outros.
Todos o ajudam a compreender as infinitas faces do capitalismo. Faces que ficam mais claras nos momentos de crise como o que vivemos desde 2007-2008. Quando os capitalistas rentistas assistem à desvalorização de seu capital devido às taxas de juro negativas. E quando a ortodoxia liberal não tem nada a oferecer para superar a crise.
Esse momento de crise é um momento de transição – uma transição que poderá ser para um capitalismo mais democrático e mais social, se formos capazes de aproveitar essa oportunidade não apenas para criticar, mas, como fez Keynes nos anos 1930, para pensar o novo e oferecer opções que façam sentido para uma coalizão de classes desenvolvimentista. O Capital e Suas Metamorfoses é uma contribuição nessa direção que saúdo com alegria.
FONTE : Revista "Carta Capital"
Belluzzo é um pouco de tudo isso, pois sua forma de ver o mundo está associada a Marx. Porque aprendeu com Marx a pensar histórica e dialeticamente. Por isso sua análise da modernidade neoliberal e de sua crise é tão rica neste livro. E por isso, também, ela não é linear; não pode ser resumida com um silogismo ou uma taxionomia.
Sou amigo de Belluzzo há uma eternidade. Nossa origem comum está no estruturalismo desenvolvimentista e na admiração por Marx.
Nos anos 1970, travamos um debate porque ele e outro querido amigo, Luiz Antonio de Oliveira Lima, criticaram minha teoria da tecnoburocracia. Uma teoria na qual eu utilizava instrumentos teóricos marxistas para chegar a conclusões marxistas.
Na virada dos anos 1970 para os 1980 nos juntamos na luta pela democracia e na tentativa bem-sucedida de formar um pacto democrático-popular, no qual os empresários industriais tivessem um papel de liderança associados aos trabalhadores e à burocracia pública.
A crise desse pacto e a minha decisão de participar da fundação do PSDB enquanto Belluzzo continuava no PMDB provocaram um inevitável afastamento, mas, quando o partido que julgara ser social-democrático caminhou para a direita e rejeitou o desenvolvimentismo, nossos caminhos voltaram a se cruzar.
Belluzzo é um analista e um crítico insuperável da financeirização do capitalismo. Em conjunto com Luciano Coutinho, escreveu um trabalho pioneiro sobre o tema em 2004, Financeirização da Riqueza, Inflação de Ativos e Decisão de Gastos em Economias Abertas.
Nesse livro, além de voltar a fazer a crítica do capitalismo e da sua inerente instabilidade, ele se vale de Lukács para nos propor uma ontologia do capitalismo, para vê-lo como um ser social que não está dentro de nós, que não é produto de nossas elucubrações lógicas, mas é um ser objetivo, que está aí fora de nós. Um ser complexo que podemos procurar entender em suas múltiplas determinações, sem perder de vista sua objetividade e unidade.
A economia política de Belluzzo está, assim, a quilômetros de distância do método hipotético-dedutivo usado pelos economistas neoclássicos ou ortodoxos, e dos seus modelos matemáticos vazios de realidade.
O que lhe interessa é compreender o mundo no qual estamos inseridos. E para isso ele se vale de uma gama de autores extensa e ilustre. Além de Marx e Keynes, que estão no centro do seu pensamento, temos Lukács, Berman, Marcuse, Boltanski, Polanyi, Mannhein, Kalecki e muitos outros.
Todos o ajudam a compreender as infinitas faces do capitalismo. Faces que ficam mais claras nos momentos de crise como o que vivemos desde 2007-2008. Quando os capitalistas rentistas assistem à desvalorização de seu capital devido às taxas de juro negativas. E quando a ortodoxia liberal não tem nada a oferecer para superar a crise.
Esse momento de crise é um momento de transição – uma transição que poderá ser para um capitalismo mais democrático e mais social, se formos capazes de aproveitar essa oportunidade não apenas para criticar, mas, como fez Keynes nos anos 1930, para pensar o novo e oferecer opções que façam sentido para uma coalizão de classes desenvolvimentista. O Capital e Suas Metamorfoses é uma contribuição nessa direção que saúdo com alegria.
FONTE : Revista "Carta Capital"